segunda-feira, 16 de março de 2009

Saudade

Lembro bem quando chegou. Magra, comprida, nervosa. Nessa hora pensei comigo mesma: Mais uma não vou dar conta. Veio com lençol e coberta azul, e deles não se desfazia por nada. Só comia se eu ficasse ao seu lado e a água que bebia fresca e colocada na hora, não podia ser deixada em seu pote, pois não o utilizaria mesmo. Esperaria por uma nova, fresca e colocada quando tivesse sede. Soube que dormia na cama com os donos e não pisava lá fora por nada.
Falar a verdade não sei se a situação era cômica ou trágica. Estava diante de uma cadela pastor alemão que fora criada e se portava como um desses cães dito de luxo que andam no colo. Mas, o meu amor por animais e, em especial por cães, é incomensurável. Daí, com paciência, alguns meses depois as coisas já estavam como deveriam ser, com a Steff, esse o nome dela, habitando uma das alas do canil, sem suas cobertas, saudável e completamente entrosada com os outros cães.
Lá se vão treze anos. Felizes, posso dizer. Dei e recebi muito carinho dessa amiga canina. Neste carnaval ela começou a apresentar sinais de que algo não ia bem. Já não corria mais, nem pulava, parecia cansada. A idade estava pesando. Comecei a preocupar-me mais ainda quando no domingo de carnaval a encontrei totalmente prostrada e sangrando. Não vou colocar aqui detalhes, apenas dizer que ela teve falência múltipla dos órgãos, e uma morte só prorrogada devido aos cuidados dos médicos veterinários e de minhas orações. Mas, a hora era chegada e assim, de um dia para o outro, fiquei sem sua presença.
Só aqueles que realmente se importam com os animais sabem da dor que nos consome nessa hora. Não é só a dor da perda, é também da nossa completa impotência diante da morte. Já tinha perdido uma cadela poodle com 13 anos, e tenho mais dois cães que estão nessa fatídica faixa etária.
A morte dos nossos animais queridos nos remete a perda de nossos entes amados e grande amigos que já se foram, e querendo ou não, acabamos confundindo nossas lembranças e misturando tudo, o que só faz aumentar mais ainda nossa dor.
Esses dois últimos anos não foram bons. Tive muitas perdas, assim, acho melhor parar por aqui. Não quero ser saudosista, não sou saudosista, a não ser nessas horas em que a velha senhora e eu ficamos frente a frente.
Sei que a Steff está correndo pelos jardins do Eden e isso me deixa feliz. Um dia, certamente, estarei lá também, todos juntos num grande piquenique.

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